Há no Brasil uma imensa resistência para o novo. Não cabe aqui dizer que o novo é sempre bom ou sempre o melhor caminho. De forma alguma! Não sou desses que admiro tudo que é novo e refuto o que é antigo. Tem muita coisa antiga boa e que funciona muito bem até hoje. Mas procuro refletir quando o velho, o antigo, já não dão mais resultados. Contudo, em nossa educação, mesmo com fracassos anos após anos, muitos dos nossos professores continuam dando as mesmas aulas, utilizando as mesmas técnicas e lançando mão das mesmas ferramentas. O argumento é quase sempre o mesmo, com algumas variações: ”Eu tive aula assim e aprendi. Porque nosso aluno também não pode aprender? ”. Pois é, as coisas mudaram. Há 30 anos enviávamos cartas para nos comunicarmos, hoje, até mesmo os e-mails estão se tornando obsoletos. Fico imaginando um médico com a mesma cabeça de muitos de nossos professores, dizendo “Para que esse novo equipamento? Na minha época não usávamos nada disso e conseguíamos tratar nossos pacientes”. Como eu já disse, os tempos mudaram, novas formas de transmissão de doenças apareceram, a velocidade do mundo atual demanda novas técnicas e tecnologias.
Nesse sentido, muitos de nossos professores não percebem que os alunos também mudaram. Pesquisas já indicam que até mesmo o perfil cognitivo mudou. Sem perceber a necessidade de mudanças, continuam resistentes a ideias novas. Dessa janela para o atraso que me refiro, o olhar apenas para o passado. Janelas que precisam ser fechadas para que outras novas sejam construídas, mas dessa vez, que deem uma visão para o futuro.
O leitor pode estar se perguntando quais são essas janelas para o futuro. Pois é, não tenho repostas prontas. E que bom que seja assim! A discussão sobre a educação deve ser um processo contínuo e nunca uma obra fechada. Contudo já existem alternativas que foram suficientemente testadas e obtiveram bons resultados. Nesse caminho, já temos dados suficientes mostrando que quando o foco da aula é o aluno e não o professor, melhores resultados aparecem. Para esse modelo de ensino, com foco nos estudantes, damos o nome de metodologias ativas. Olha que para quem é da área isso não é nada novo. É impressionante que ainda seja preciso alguém escrever sobre isso. No entanto, aqui vamos nós.
Essas novas metodologias, são modelos de aula no qual o professor deixa de ser o centro da aula, o detentor de informações e passa a exercer muito mais um papel de facilitador, de guia, de orientador. Gasta-se menos tempo com o professor falando e mais tempo com os alunos executando tarefas em sala de aula. O foco da aula passa a ser o estudante.
São várias as técnicas já testadas, como a aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem baseadas em times, peer instruction, aula invertida ( a minha preferida!) fishbowl e tantas outras. Todas elas com o aluno sendo muito mais ativo que passivo. Todas elas testadas e comprovadas que garantem melhores resultados de aprendizagem. É importante dizer que sempre há espaço para momentos tradicionais, expositivos, que são também importantes. Não se trata aqui de demonizar tudo o que já foi feito. Trata-se de aproveitar o que já foi feito de bom, deixar o que não deu certo para trás, ou seja, fechar as janelas para o atraso, e agregar com o que está surgindo de novo e que já foi suficientemente testado e deu em bons resultados.
Embora os resultados apareçam, resistência a essas novas formas de ensinar e aprender ainda é muito grande. Não saberia fazer uma análise mais profunda, mas partindo da minha experiência, acredito que muitos professores ainda não foram convencidos de que essas metodologias funcionam e acreditam que a melhor forma de lecionar ainda é falando por mais de uma hora com os alunos. Esse pelo menos foi o motivo pelo qual eu também resisti por alguns anos. Mas há um momento em que a realidade se impõem e a frustação de anos dando aula e ver que os alunos não obtinham bons resultados, fez com que eu buscasse mudanças. Essas mudanças são lentas e paulatinas, mas devem começar. Não figo que hoje todas as minhas aulas já foram reformuladas. Pelo contrário, ainda estou no início, mas já percebo resultados positivos. É preciso começar!
Acredito que o outro motivo, e eu diria que é esse o mais grave, é que para implementar essas mudanças na sala de aula é necessário se capacitar, fazer cursos, ler. Não é simplesmente uma mudança intuitiva. E aí ocorre que muitos de nossos professores não estão dispostos a se dedicarem o suficiente. Enquanto isso, nossos alunos ficam para trás.
Como eu disse, não me encanto com o que é novo. No entanto, as janelas para o atraso nos permitem olhar somente para o que já aconteceu e nos fecham para aquilo que está por vir. A educação brasileira precisar ser farol, olhar para frente, lançar tendências, guiar nosso próprio destino, aproveitando o que é antigo e é bom, mas também desbravando aquilo que ainda está por vir e não ficarmos refém somente daquilo que já passou.
e-mail: diegoceccato@gmail.com
|